Foto: sxc.hu

domingo, 4 de dezembro de 2011

Dificuldades

E por ele não falar com ela, foi que ela quis falar com ele...
E por ele não dar atenção a ela, ela quis que ele lhe desse atenção...
...junto com algum mistério inerente aos corações sujos.

E assim vai o mundo, na busca dos inacessíveis.

Vive-se de dificuldades, na medida da capacidade de fluidez da potência dentro de nós.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Poente

Brilhava num resplandecer dourado e alto.

Trajava sonoridades que os olhos degustavam lentamente, como os aromas de fino trato táctil, desejosos de tornarem-se lembranças futuras ao som da meia-noite, enquanto no estar mergulhado na solidão necessária.
Num longo ósculo oblíquo, ostentava as serenatas suaves que emanavam vontade delicada de existência, que nunca se creu realmente. Mas ali, agora, era.

Afrodite possível, se quisesse, teria um coração inocente entrecortado nos seus dedos.
Ele sonha e luta para que os dois sóis se ponham sobre os dois oestes.

sábado, 10 de setembro de 2011

Sequóias

Digam a ela que amou-a um pouco.

Por que amor não é aquilo que vem do nada e fica... amor é como tudo na vida, que é construído.
É aquilo que tem tons de mãos quentes nos dias frios de inverno.
Que tem gosto de azul numa tarde cinzenta de olhar cúmplice, pela culpa sobre o ato de insistir na vida.
Que se entrelaça entre os dedos e parece não querer desatar sem fazer força.
Que floresce sobre uma boa conversa numa tarde morna.
Que um e o outro decalcam sobre as tristezas e dúvidas.

Muito mais que qualquer paixão.

Agora é noite e logo mais clareia de novo.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Onde

Às vezes espera o melhor...
mas só espera... esperar como um ato de vontade em potencial altíssimo, mas com o medo a açoitar o bater da grande envergadura que é saltar dentro grande nada, que é o que não se conhece e, de repente, explode e às vezes fica até comum demais...

Mas o medo, astutado, põe regras de contas e divisões até...
tudo pra que pareça que a lógica guia-se junto com a decisão sem arrojo e sem vida.

E, a noite, enquanto corre o rio, o sonho inunda a fraqueza e redime o erro enquanto reverbera a lágrima nos devaneios felizes...
e quando acorda, de novo, ainda há a lacuna.

Há de se temer o medo, isso sim.

terça-feira, 21 de junho de 2011

Concisões - I

A independência é ilusão fútil;
a solidão é realidade amarga.

terça-feira, 31 de maio de 2011

Escape

A mãe, passeando com o filho, em meio a sua vida feliz, dava risada dos trejeitos do mendigo estirado no chão, tocando sua harmônica. Todos que passavam, riam do mesmo modo. Riam, porém, sem entender a piada.

O homem pobre (e que ainda se tenha consciência suficiente para não se permitir inverter a expressão sem perceber prejuízo poético) ali estirado, foi um dia um desses sorridentes.

Por que, um dia, veio à tona sobre como vendia sua vida, seus últimos minutos.
Largou tudo e foi viver como um asceta urbano.

Ele cumpria seu papel de jogar na cara dos transeuntes que havia algo de errado em tudo aquilo.
Ele sabia que seu grito era mais pronunciado sob trapos e mau-cheiro e sobre sua própria dignidade.

Não que fosse livre, por que, em realidade, nunca se está.
Mas era livre à sua maneira, e não à dos outros.

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Sobre a morte

Brota do futuro inevitável do pequeno ramo esverdeado, os difamados sem vida.
Refestelam-se sobre a carne inerte que correu como cão amado, os últimos operários.
Prolifera-se sobre a vívida primeira dor, o esquecimento maduro.

De todos nós, que um dia viemos como verbo de felicidade, e partiremos como substantivo pesaroso.

Lembrai: se corre sangue na sua veia pulsante, é porque um dia irás morrer!

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Liberdade

Cantava toda manhã, tarde e noite.
Mas para todo lado que ele olhava, a sentença era metálica e fria.

Vivendo.

Por descuido, escapou
e perdido entre o cinza e o verde,
morreu de fome, frio e alegria.

Viveu.

terça-feira, 12 de abril de 2011

Julgamento parcial

Num suposto monólogo nas obscuras eras da transição das velhas para as novas idéias:
- Elas falecem... sempre...
- Que é que se há de fazer?
- Não sei. Mas é culpa da sutileza das suas existências..
- Mentira. É culpa sua: se não há de ser como quer, as sentencia com seus motivos.
- Mas não é assim que deve ocorrer depois da dor rotineira?
- ...
- Aliás, e o pragmatismo?
- Como?
- Esse negócio de rotineiro... se esquece de que o mundo é o que vemos?
- Hum...
- Ou seja, você está deixando o pragmatismo de lado... rotina? Quem a estabelece é você!
- É, sei que estava só querendo fugir mesmo.

- Pois é. Bom, elas morrem, mas não é culpa de sutileza nenhuma. Você as sentencia. Não se esqueça disso.
- Sim... penso talvez que eu não me importe mesmo que elas faleçam... ainda haverá de vir aquela pela qual eu pense duas vezes antes da sentença?
- Sendo lógico, não há motivo. Mas à parte de tudo, resta a esperança... Quando a lógica e a imaginação não suprem, resta a pequena esperança que sempre está a flutuar nos corações oprimidos...

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Estar-se só

Por que acostumou-se assim.
À beira da sombra ou mesmo ao sol, era criança de brincar só com os próprios primos e irmã.
Nunca jogou bola na escola; aliás, se fosse, era a sina de ser último.

Quando viu-se com alguém, foi só uma vez a dar gostos de recalque freudiano.
E agora, em vez de lutar, convenceu-se piamente... a dor é pior que cachaça, por que nunca passa.

Diz que não está triste...
ver quem gosta, aparentemente feliz em outro amplexo foi consequência lógica basicamente.
Se o mundo é o que se vê, e vê-se só e sem sol, que vontade há para superar isso? Convencer-se se torna bom meio de entender tudo.

Ah... vá tudo para o diabo.

segunda-feira, 28 de março de 2011

Convergência

O quão longe a vista alcança no horizonte
é como o mundo é.


E há certos caminhos
que fazem a linha tênue entre o visível e o imaginado
se tornar somente mais uma escolha. 

domingo, 20 de março de 2011

Areia

Tudo são pedras de areia.

Olhadas de longe, talvez remetam a uma solidez rochosa... mas, quanto mais perto se chega, mais fica visível a fraqueza das estruturas. E quando tocadas, ficam claras as suaves existências daquelas grãos, desde que o próprio toque desmancha as sutis formas. 
Se houver força, o único elo entre os grãos se esvai.

Mas há de se lembrar que mesmo assim, as pedras de areia ainda são pedras.

quinta-feira, 10 de março de 2011

Reloading

Às vezes, enquanto se está perdido no meio de um nada contaminante, há como inexplicáveis forças potentes que arrastam para pequenos pontos de luz, pontos estes que queremos tomar nos braços e declarar sua infinitude nos peitos desesperançados.

terça-feira, 1 de março de 2011

Só, no meio de todos

Ficar consigo mesmo, por muito tempo, mesmo em meio à multidão, pode ser bem produtivo:
faz entender a tolerância sobre o joio (aqueles que assim foram semeados, ou seja, em realidade, não tem essência nenhuma) e orienta para um melhor cultivo.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Maldade

Acima dos fetiches da mídia (da perpetração dos belos corpos e também da ilusão que ela cria),
a maldade reside mesmo nos rostos mais lindos:

Mau-cheiro e feiúra não cabem nos seus mundos, independente das relevâncias existentes.

Isso faz lembrar da solidão inerente...

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Diferenças - I

Sutilmente, brandem uma bandeira em que estão cravadas a vontade e a necessidade, quase que fundidas; aos pés da bandeira, argumentos falidos pela solidão desesperada dos homens, que, delacroixamente, custeiam a morte do espírito verdadeiro do valor dos erros como pai do aprendizado...

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Solidão

Numa pretensão desmesurada,
digo que se há algum entendimento sincero sobre alguma coisa,
ainda assim, é o pouco feito na irmandade dos poucos.
Mas mesmo desse modo, é impossível não se sentir só:

então resta a maneira de construir castelos com pedras disformes
e povoá-lo de espíritos perfeitos.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Perfeição

Essência é uma coisa difícil.
Perfeição, da maneira como se coloca normalmente, nem digam nada:

Como tudo, ela se constrói,
quando olha-se apenas para o todo e esquece-se das pequenas asperezas .
Perfeição é um todo de imperfeições bem disposto com pequenas belezas.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Esperança

Filha de judeus rígidos, estuprada pelo tio:
Calcou-se sobre a correnteza a ser sempre vencida, e decorou o externo com teu sorriso pleno.

Apesar do berço rico, maior riqueza era tua força:
esta era tão grande quanto a aparente impossibilidade da sua existência.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Visão

Um não: Um critério é impossível.
Ou seja, no mínimo, dois: Mas que não haja bipolarização bem definida.
Apelemos para o três: por que a média medida é estritamente necessária.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Resolução

As facas que ferem os homens também lhes corta o pão.
Assim como da raiva estúpida pode surgir a reflexão, e da tristeza, o valor daquilo que se tem.

Basta lembrar do valor único da vida e do pragmatismo mínimo.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Implícito

Há no mundo: o amor e a dor.
(Só se dá outros nomes para o amor e a dor por que eles não são tão pequenos para caber em poucas letras.)
Todas as outras coisas são conseqüências ou são elas mesmas:

Se não se tem amor, buscam-se coisas parecidas para ocupar de novo aquele vazio que fica.
Se não se consegue repôr totalmente, a dor logo vem.

Apesar de que, a dor vira amor, se olharmos bem.