Foto: sxc.hu

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Obviedade

Por que você não se retira?

Tokusan estava estudando o Zen com Ryutan.
Uma noite, Tokusan foi a Ryutan
e lhe fez muitas perguntas.

O Instrutor disse:
"Já é tarde da noite.
Por que você não se retira?"

Tokusan inclinou-se
e, ao abrir a cortina para sair,
observou:
"Está muito escuro lá fora."

Ryutan ofereceu-lhe uma vela acesa
para encontrar seu caminho.
Mas logo que Tokusan a recebeu
Ryutan assoprou-a.

Neste momento,
a mente de Tokusan abriu-se.

Texto incrível, que chegou a meu conhecimento por causa da matéria EDF0290 - Práticas escolares, contemporaneidade e processos de subjetivação; agradeço a professora Cintya Regina Ribeiro por uma aula tão produtiva.

Peço desculpas a obviedade (pelas críticas infundadas feitas por mim), pois, esta, quando levada ao extremo, pode surtir primariamente um efeito cômico, para depois causar estranhamento, coisa fundamental para todo ser humano que deseja dar sempre um passo além de si mesmo...

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Sobre o difícil ato de ser simples

O metalúrgico lembra-se, 5 minutos antes do fim do seu almoço, que a produção deve aumentar: esquece de si e vai produzir. O grande gerente de uma grande empresa lembra-se da última reunião, em que foi mostrado que as políticas atuais devem ser revistas devido a cortes orçamentários, e se esquece que o aniversário de sua filha é hoje. A vendedora, que passa por um artista que exibe seus artefatos, lembra-se de andar um pouco mais rápido por que precisa pedir um aumento para seu chefe, e esquece de olhar para o mundo ao seu redor.

Neste mesmo instante, no meio de toda aquela agitação, podemos perceber seres singulares. Suas existências tem um brilho tão excepcional, mas não daqueles clarões, que nos fazem fugir da luz, e sim de uma tonalidade realmente distoante de todas aquelas luzes artificiais, que nos fazem parar e prestar atenção: o homem que faz um papagaio tirar a sorte no papel, com sua música melancólica; um jovem na Paulista, que munido de um simples violino e seu estojo, discorre sobre Bach e outros grandes nomes; a velha senhora com suas tradições, que observa sem preconceito aos atos loucos dos jovens, pois lembra que teve sua época... são todos eles estrelas em constante morte. Infinitas supernovas.

Isso tudo me fez pensar sobre Virginia Woolf: ela tomava seres simples e buscava a beleza deles.
E tal simplicidade, se existir, ocorrerá nos atos, pois o ser humano é complexo.


...

Podemos ver aquele senhor que, com seu radiozinho de pilha, escuta as velhas músicas de sua infância (tais canções povoadas de rios brilhantes, enquanto observa com olhos de criança o mundo tão mudado, com pessoas querendo ser tanto, mas sendo diferentes de si próprias) e transita num nuliverso todo a parte, em que o tempo agora escorre lentamente, de forma a parecer que um dia inteiro demore uma eternidade e que a morte será apenas um sono bom mandado por Deus.

No mesmo barco, navegando em meio à pressa tempestuosa dos transeuntes a sua volta, vemos a pequena criança que transforma algumas pedrinhas em sua morada imperial, onde, de lá do alto de sua imaginação, comanda o senhor folha de amora para que vigie se não está a tristeza rondando para tomar posse dos seus tesouros de semente de mamona e grãos de feijão...

A simplicidade possui uma beleza rara, sincera e às vezes até difícil, pois muitos leigos a confundem com a ignorância ou com as coisas óbvias.

Ser simples, numa sociedade tão necessitada de coisas desnecessárias, é complexo.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Releituras - 2006

Ela é toda sonho.

E, com um jeito simples, mas não rude, se achega na poesia e vai modelando microtexturas tão complexas com ela, que à mesma se funde. Com aqueles olhos cor de café-superado, e um jeito de algodão doce, dissolve seu velho urso de pelúcia naquela poesia também, por que ainda é uma criança que é sol mesmo num dia de chuva, mas que tem medo de calos.

Moça de razão e emoção, mudaras? Tornou-te quem tu és?
Ainda queres voar sem cair?

(Apesar de que, mal consigo te ver daqui, está quase se tornando uma daquelas estrelas que a gente acha que existe, mas que começa a duvidar se apelar somente para a razão dos astrônomos.)

Como bem sabes, a queda não é o fim, como o erro também não é vergonha. Se caíres, nasça de novo! Se te apegares a suavidade das nuvens e ao friozinho aparentemente seguro do céu, é por que deverás cair para recomeçar!

Mude sempre, mas sempre com a loucura dosada insubstituível.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Angústia

O que há de se fazer quando a única coisa que nos importa é uma certeza somente? Com tantas incertezas pelo mundo, a serem desveladas, o que me importa agora é fazer esses violinos com suas notas lacônicas pararem de trazer à tona um passado que não quero mais, mas que me fazem pensar que são o último fôlego numa tempestade solitária!

Eu convivo com quaisquer outras incertezas, mas essa é o sino da angústia:
Onde está dentro de mim?

Está aqui, do lado esquerdo, ou aqui, do lado direito?

Nem eu sei ao certo... quem dirá você saber...
E isso torna a angústia maior do que consigo ver fora da minha sombra...

Será que eu deveria me submeter ao velho processo burocrático do senhor caixa de banco ao dizer "Próximo!" e esquecer da Angústia?

Queria um dia poder te ver com os olhos que eu sempre quis...
O meu fim, em realidade, é não perceber com qual fim apareci na tua bonança...