Foto: sxc.hu

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Tristeza contida

Não velo meus mortos.

Procuro mirar a forçosa serenidade, de modo a encerrar a dolorida porém necessária face de um passado às vezes mais saudoso, mais bonito ou menos angustiante ou estranho.

Era uma pessoa comum. À parte de considerações woolfianas, era comum o suficiente para não arriscar em um vôo linguístico maior do que me pareceu exatamente acertado. Mas, deve-se citar sua enorme serenidade quase que anti-materialista, que longe de ser taxada como ignorância, relevava os erros da sua prostituta mulher, que torrava as economias dele com outro homem: ela era mãe de um filho teu, pequeno ser que ele depositava o resto das esperanças destroçadas.

O significado do seu nome remetia a "homem da primavera". Sem nada como destino, mas simplesmente como metáfora conclusiva brilhante, assim foi a sua vida: cresceu, floresceu, morreu. Assim o fez de modo tão natural, que era ele mesmo a própria primavera.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Sobre estar sob a existência




Era jovem e triste.

Exponha seus sentimentos, disseram-lhe: Mãe, pai amo vocês!
As não-ressonâncias trituraram-na: está louca, não sabe o que diz.

E lá no alto, jogou-se à alguma pretensa vida na visão de todas as janelas.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Escrever...!

Um ruído arranhava o resto de zunido zincoso e zeugmático da escuridão noturna, com a permissão etílica dos anfitriões da noite.


Volto para a cadeira e continuo a soletrar expressões metalinguísticas como esta, à espera da conclusão em forma de texto sereno, originado da torrente de idéias picotadas e molhadas que andavam à se apoiar nos verbos e substantivos soltos que boiavam nas horas preguiçosas com tempo de sobra.

Ocorre-me então de tentar dar um porquê de metaforizar, dado que a metalinguística sucumbiu perante a coesão. Inicialmente, introduzo o debate apontando a possível pedância do ato e continuando o mesmo com a hipótese de que há aqui um lirismo necessário. Complementando a idéia lírica com a amplitude da significação poética, considero que havia era uma luta contra a ditadura semântica, contra o autoritarismo da objetividade pura e simples: por que, se é sobre as dificuldades que se molda a capacidade, por que é que os belos textos se moldariam em cima de alguns poucos significados? Não que houvesse infinitos, por que isso é hipótese descabida, mas mais que um, se houvesse beleza.

Valho-me ainda, se minha referência o permite, da frase: "Sua força deve ser pública e seus medos, privados. Compartilhe seus sorrisos, chore na solidão.". O significado disso textualmente me é: escrever é algo necessário para mim... mas não devo sair por aí alardeando desesperos... então, resta o deslocamento da significação para o plano da multiplicidade, de modo que o verdadeiro sentido se oculte... que seja hermético mesmo. Dirão: "Mas não interpretarão da maneira correta!" E responderei: "Tomara! Já o disse, escrever é necessário, mas não o é tomarem o desespero para si.". Se retrucassem "E se desvendarem?", diria eu: "Quer dizer que me meterei a Dédalo de novo...!"

A angústia e o escrever são inevitáveis, mas deve se evitar totalmente o desespero.