"Enquanto vocês tão trabalhando,
eu tô enrolando.
Enquanto vocês tão dormindo,
eu tô passeando."
Assim entoava o senhor sossegadamente, várias vezes, deitado sob suas palavras que teciam sua loucura, exclamada por risos, soslaios e desdéns supostamente triunfantes.
"Vou deitar porque aí eu não caio. Você vai me derrubar?"
O carretel de linha que tinha nas mãos talvez fosse só a materialização vulgar do seu discurso. Talvez o silêncio que assolasse sua mente - esta sedenta de algum querer, qual fosse - movesse aquelas mãos calejadas a construir o estranho objeto, que portava como um estandarte da sua quixotitude.
Diriam que ele ali se iludia acerca dos moinhos se tornando gigantes: que não houvesse dúvida disso! Mas aquele agir, aquele desencontro consigo mesmo, tinha algo de eternidade... bem diverso da vontade de se tornar uníssono com mudas vozes.
E, cite-se: houve quem percebesse que a dita vitória, a brilhar como ouro, em realidade, após precisos desgastes de ourives meticulosos, treinados mesmo com a lima mais fina do bom-senso, revelava-se apenas fina cobertura sobre uma reles vontade pueril de se manter dentro da normalidade alardeada pela mentalidade de rebanho.
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Há 6 anos