Bradava pelo que ninguém mais entendia. Filosofava de braços dados com seu copo de alegria etílica, agora não mais sozinho, estando junto de si. No ponto de ônibus, o esforço do pobre Homem (havia se transmutado de marionete para ser sincero), ecoava nos preconceitos das pessoas que o observavam, com tom de zombaria ou pena, por mais uma vida estragada. Mas, alguém lembrou-se dos versos fundamentais:
"Quero antes o lirismo dos loucos
o lirismo dos bêbados
o lirismo difícil e pungente dos bêbados..."
Agora, o Homem vertia-se nos seus próprios olhos.
"O Japão, ele sofreu com a bomba de Hiroshima."
Mas isso era hermético na mesma medida da alienação do observador à poesia e à dor inerente ao mundo. Recomeçado o seu discurso, tentava penetrar nos olhos de algum transeunte: sua face e sua barba revelavam a matiz de anti-experiência que seu discurso carregava. Tomado da sensação de alguém ter lhe ouvido, o homem parecia estar se fazendo entender:
"Eu, eu gosto do Japão."
O poeta bandeiriano saudava o receptor sobre a verdade nos próprios olhos com seu aperto de mão, quando, quase no mesmo momento, chegava o ônibus.
A reflexão rendeu frutos.