Foto: sxc.hu

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Loucura necessária

Bradava pelo que ninguém mais entendia. Filosofava de braços dados com seu copo de alegria etílica, agora não mais sozinho, estando junto de si. No ponto de ônibus, o esforço do pobre Homem (havia se transmutado de marionete para ser sincero), ecoava nos preconceitos das pessoas que o observavam, com tom de zombaria ou pena, por mais uma vida estragada. Mas, alguém lembrou-se dos versos fundamentais:

"Quero antes o lirismo dos loucos
o lirismo dos bêbados
o lirismo difícil e pungente dos bêbados..."

Agora, o Homem vertia-se nos seus próprios olhos.

"O Japão, ele sofreu com a bomba de Hiroshima."

Mas isso era hermético na mesma medida da alienação do observador à poesia e à dor inerente ao mundo. Recomeçado o seu discurso, tentava penetrar nos olhos de algum transeunte: sua face e sua barba revelavam a matiz de anti-experiência que seu discurso carregava. Tomado da sensação de alguém ter lhe ouvido, o homem parecia estar se fazendo entender:

"Eu, eu gosto do Japão."

O poeta bandeiriano saudava o receptor sobre a verdade nos próprios olhos com seu aperto de mão, quando, quase no mesmo momento, chegava o ônibus.

A reflexão rendeu frutos.