Foto: sxc.hu

terça-feira, 31 de maio de 2011

Escape

A mãe, passeando com o filho, em meio a sua vida feliz, dava risada dos trejeitos do mendigo estirado no chão, tocando sua harmônica. Todos que passavam, riam do mesmo modo. Riam, porém, sem entender a piada.

O homem pobre (e que ainda se tenha consciência suficiente para não se permitir inverter a expressão sem perceber prejuízo poético) ali estirado, foi um dia um desses sorridentes.

Por que, um dia, veio à tona sobre como vendia sua vida, seus últimos minutos.
Largou tudo e foi viver como um asceta urbano.

Ele cumpria seu papel de jogar na cara dos transeuntes que havia algo de errado em tudo aquilo.
Ele sabia que seu grito era mais pronunciado sob trapos e mau-cheiro e sobre sua própria dignidade.

Não que fosse livre, por que, em realidade, nunca se está.
Mas era livre à sua maneira, e não à dos outros.

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Sobre a morte

Brota do futuro inevitável do pequeno ramo esverdeado, os difamados sem vida.
Refestelam-se sobre a carne inerte que correu como cão amado, os últimos operários.
Prolifera-se sobre a vívida primeira dor, o esquecimento maduro.

De todos nós, que um dia viemos como verbo de felicidade, e partiremos como substantivo pesaroso.

Lembrai: se corre sangue na sua veia pulsante, é porque um dia irás morrer!

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Liberdade

Cantava toda manhã, tarde e noite.
Mas para todo lado que ele olhava, a sentença era metálica e fria.

Vivendo.

Por descuido, escapou
e perdido entre o cinza e o verde,
morreu de fome, frio e alegria.

Viveu.