Olhavam com assombro para o pobre embriagado.
Questionou-se sobre onde ele estava... tentei dizer o bairro, como se isso talvez suprisse a pergunta, o que depois percebi que não. Arbitrariou que seu destino era o metrô, estando num ônibus que tinha passado há muito pelo Consolação... o motorista então o instruiu a atravessar para o outro lado de uma rua que não o ia deixar cumprir tal tarefa... desacatando a altivez com que se impunha a velocidade capitalistamente necessária do ônibus, o motorista do coletivo se vestiu com o resto das minhas esperanças que ainda tenho na humanidade, daquelas que vem com um óculos que nem aqueles 3-D, mas que fazem a gente ver que antes de bêbado, estava ali o homem, com um problema que não sabíamos, e se decidiu.
Pousando sublimemente o ônibus, o motorista se ergueu como se brandisse a todos a obrigação de ser humano com os humanos. Guiando o ébrio até o outro lado da rua, deve tê-lo instruído sobre quais ônibus pegar e depois, talvez ainda sentindo o poder de re-humanização que tais tipos de coisas conseguem fazer, pensava alto, inclusive sobre a atitude primeira que havia considerado, que era a de largar o homem naquele estado à sorte da neutralidade de culpa dos carros.
Pensava alto, pedindo perdão talvez. Mal sabia ele que seu ato havia construído o perdão ali, havia construído um dia incomum, que não o seria num dia em que o seu não-ato implicaria no corpo estendido de um bêbado.
Não menos que um sincero aperto de mão este verdadeiro ser humano merece.
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Há 6 anos