Foto: sxc.hu

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Para que tanta correção... há de se dizer e pronto, oras.

Num ato de sinceridade extrema, a moda da loucura dionisíaca de Nietzsche, bato meus cotovelos nas teclas do piano e declaro que partiu da realidade dos meus versos e se tornou alçada a categoria de beleza platônica, a que nunca deixou de ser platônica... (num contexto platônico... a ressoar como pastelônica história recursivo-tautológica.)


Novamente, ressabiada, a old idea me percorre a espinha, até atingir meus olhos, até o momento em que ela, ali, se mutava em desculpas.
É como se nunca houvesse havido as tais das New Ideas... Cada fim desse é como o ressoar dos trompetes ao fim da sinfonia, avisando a massa imberbe que é hora de aplaudir.
A poesia atravessava meus olhos como num filme de morte, a beira de túneis com luz no fundo... mas, tolos, não há luz alguma...
A vida é o próprio túnel escuro.

Há ainda a vontade, como o pilantra do Tchaikovsky resolveu uma vez, de não dar o gostinho de gritar "bravo" depois de pronunciar a palavra "escuro"... pois então, por que haveria de dar esse gosto? Além do que, há de se cuidar sobre o que dirão por aí: olha, aquela obra foi... óbvia? Tan-tan aqui, tun-tch-tan lá (a maneira dos pseudo-ouvintes... nem sabem o nome do que lhes tocam)...

Pois sim: após a torrente de sinceridade, que foi acompanhada por uma cascata de palavras, e dedos trêmulos... o furor do melindre tomava meus olhos... e corroía tudo... e pingava fora... e atropelava as palavras...

Me perdi até das palavras...
ah..
estou a ponto de...
Me verter...
Como um precipício dentro de mim mesmo...
Infinitamente...
Como, naquele mito...

De Sísifo empurrando a pedra..
Ele empurrava ele até o alto...

E via ela cair...
E de novo, lá embaixo...
Empurrava de novo...
E via ela cair...
E sempre...
Há quem diga que ele via ela cair até com prazer...
Diabo de existencialistas...

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Sorriso

Sempre sorria.

Outra vez, quando me olhou, sorriu.
Perguntei: que foi?
Disse: nada! - e sorriu

Eis uma poesia hiper-hermética aos olhos, mas totalmente ritmada com o momento, entoada numa despretensão heptassilábica, sobre a beleza das coisas aparentemente sem motivo e inalcançável aos insensíveis (mas alçando altos vôos através dos trompetes mahlerianos de um hino ao triunfo sobre as vicissitudes):

quatro letras e dois belos sorrisos!

Heidegger

A angústia "é, dentre todos os sentimentos e modos da existência humana, aquele que pode reconduzir o homem ao encontro de sua totalidade como ser e juntar os pedaços a que é reduzido pela imersão na monotonia e na indiferenciação da vida cotidiana. A angústia faria o homem elevar-se da traição cometida contra si mesmo, quando se deixa dominar pelas mesquinharias do dia-a-dia, até o autoconhecimento em sua dimensão mais profunda."


texto retirado de http://www.existencialismo.org.br/jornalexistencial/leonardoheidegger.htm

sábado, 11 de dezembro de 2010

Utilidades

Para que serviriam as palavras senão para nos tornar melhores e mais felizes?
Para que serviria meu peito se não coubessem todas as estrofes que seus olhos delineiam nas minhas noites mal dormidas?

Para que serviria a vida, se ela fosse fadada a um passeio arenoso sem teus passos a encher de vida cada grão que eu pisasse?

Para nada.

Enfim, teria utilidade o sol por-se, meus olhos te procurarem, minha ânsia me matar por não te ver, se você, em realidade, fosse somente você mesma?

Jamais.