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quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Verdadeiro engano

"Enquanto vocês tão trabalhando,
eu tô enrolando.
Enquanto vocês tão dormindo,
eu tô passeando."

Assim entoava o senhor sossegadamente, várias vezes, deitado sob suas palavras que teciam sua loucura, exclamada por risos, soslaios e desdéns supostamente triunfantes.

"Vou deitar porque aí eu não caio. Você vai me derrubar?"

O carretel de linha que tinha nas mãos talvez fosse só a materialização vulgar do seu discurso. Talvez o silêncio que assolasse sua mente - esta sedenta de algum querer, qual fosse - movesse aquelas mãos calejadas a construir o estranho objeto, que portava como um estandarte da sua quixotitude.

Diriam que ele ali se iludia acerca dos moinhos se tornando gigantes: que não houvesse dúvida disso! Mas aquele agir, aquele desencontro consigo mesmo, tinha algo de eternidade... bem diverso da vontade de se tornar uníssono com mudas vozes.

E, cite-se: houve quem percebesse que a dita vitória, a brilhar como ouro, em realidade, após precisos desgastes de ourives meticulosos, treinados mesmo com a lima mais fina do bom-senso, revelava-se apenas fina cobertura sobre uma reles vontade pueril de se manter dentro da normalidade alardeada pela mentalidade de rebanho.

2 comentários:

Anônimo disse...

"Enquanto vocês tão trabalhando,
eu tô enrolando.
Enquanto vocês tão dormindo,
eu tô passeando."

Vida, por que tu não és assim?!
...

Alberto K. disse...

Curioso por saber quem seria esse anonimo!