Foto: sxc.hu

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Existência culposa

Era pequeno e nocivo. Era pequeno e sujo. Pequeno e doente.

Mas seus olhos inocentes - pois apenas se portava como sempre foi - acompanhavam aqueles seus últimos segundos de ferro, junto a alguns olhos alheios, atentos às pronúncias mudas mas certeiras de rústico carrasco improvisado.

Era almoço e talvez fosse comprar camisas no Brás. Talvez fosse um dia comum, em que se trabalharia, depois se gastaria e se continuaria no pacato ritmo que o esquecimento da dor alheia proporciona para o bem da consciência.

Era pequena e de metal, mas maior que a maldade inocente, a balançar seu pequeno nariz.
Um homem jovem, talvez com uns quarenta anos. Segurava um pedaço de pau e encaixava entre as grades. Talvez fosse um show de rua.

Passantes riam. Riam do que, demônios?

Era meio-dia e também três golpes.

Mesmo que corresse sobre o homem e acabasse com tudo, não seria o dia menos incomum. Mas com que direito que se haveria de escolher que tipo de dia incomum quisera ali ter? Não havia direito nenhum, exceto de compreender suas próprias mãos também em volta do mesmo pescoço golpeado, agora quebrado e frio mas liberto da culpa.

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