Foto: sxc.hu

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Legado

Com o seu falecimento hoje às 2 da manhã,

decretou-se o tempo inexistente.
decretou-se, no fundo da minha alma, que, apesar das diferenças, passou como aquele que, por algum momento, apoiou-se à beira da correnteza inevitável e invencível, e pode vislumbrar o rio de outra maneira, e que, por muita sorte, me chamou enquanto à mesma beira para mirar o rio.

Brilhou e ofuscou minha visão. Visão nascida míope, fisicamente por ascendentes, inevitavelmente por existir.
Ofuscou e me fez relembrar que a miopia descendida é uma banalidade genética e corrige-se de modo igualmente banal. Fez-me relembrar que a miopia da existência, não se corrige, mas se faz da mesma maneira quando não conseguimos corrigir a superficialidade física: estreitamos os olhos, olhamos para um ponto, fixamos bem nele, paramos detidamente, tentando ultrapassar a dificuldade de ver usando da imaginação e do raciocínio... ou então, chegamos cada vez mais perto dele, e, agindo como uma criança, olhamos por muito tempo, cheiramos, viramos, jogamos e o que mais for necessário para o objeto se curvar à petulância infantil da qual nos dotamos.

Apesar das diferenças, ele veio e ficou. Acima das futilidades de lembrar de sua aparência, status social ou qualquer outra tolice deste gênero, ficou o seu jeito de fugir da miopia, de apoiar-se à margem da correnteza e dizer:

"Apesar de tudo, acho que estamos um pouco mais perto do começo do rio do que os que se deixaram arrastar."

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