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quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Sobre o difícil ato de ser simples

O metalúrgico lembra-se, 5 minutos antes do fim do seu almoço, que a produção deve aumentar: esquece de si e vai produzir. O grande gerente de uma grande empresa lembra-se da última reunião, em que foi mostrado que as políticas atuais devem ser revistas devido a cortes orçamentários, e se esquece que o aniversário de sua filha é hoje. A vendedora, que passa por um artista que exibe seus artefatos, lembra-se de andar um pouco mais rápido por que precisa pedir um aumento para seu chefe, e esquece de olhar para o mundo ao seu redor.

Neste mesmo instante, no meio de toda aquela agitação, podemos perceber seres singulares. Suas existências tem um brilho tão excepcional, mas não daqueles clarões, que nos fazem fugir da luz, e sim de uma tonalidade realmente distoante de todas aquelas luzes artificiais, que nos fazem parar e prestar atenção: o homem que faz um papagaio tirar a sorte no papel, com sua música melancólica; um jovem na Paulista, que munido de um simples violino e seu estojo, discorre sobre Bach e outros grandes nomes; a velha senhora com suas tradições, que observa sem preconceito aos atos loucos dos jovens, pois lembra que teve sua época... são todos eles estrelas em constante morte. Infinitas supernovas.

Isso tudo me fez pensar sobre Virginia Woolf: ela tomava seres simples e buscava a beleza deles.
E tal simplicidade, se existir, ocorrerá nos atos, pois o ser humano é complexo.


...

Podemos ver aquele senhor que, com seu radiozinho de pilha, escuta as velhas músicas de sua infância (tais canções povoadas de rios brilhantes, enquanto observa com olhos de criança o mundo tão mudado, com pessoas querendo ser tanto, mas sendo diferentes de si próprias) e transita num nuliverso todo a parte, em que o tempo agora escorre lentamente, de forma a parecer que um dia inteiro demore uma eternidade e que a morte será apenas um sono bom mandado por Deus.

No mesmo barco, navegando em meio à pressa tempestuosa dos transeuntes a sua volta, vemos a pequena criança que transforma algumas pedrinhas em sua morada imperial, onde, de lá do alto de sua imaginação, comanda o senhor folha de amora para que vigie se não está a tristeza rondando para tomar posse dos seus tesouros de semente de mamona e grãos de feijão...

A simplicidade possui uma beleza rara, sincera e às vezes até difícil, pois muitos leigos a confundem com a ignorância ou com as coisas óbvias.

Ser simples, numa sociedade tão necessitada de coisas desnecessárias, é complexo.

3 comentários:

Ca disse...

é mto complexo mesmo. se vc tenta ser simples, te taxam de louco, sonhador, alienado... etc.
eu não sei pq as pessoas não param para observar o por do sol. a cidade inteira devia parar as vezes...
enfim.

Ca disse...

nossa, vc descreveu exatamente o que aconteceria na nossa sociedade capitalista...
mas devia ser um dia em que os vendedores também parassem pra ver o por do sol...
ou o mundo devia parar todos os dias, sei lá... com todo mundo fazendo yoga... rsrsrsrsrsrsrsrs
ok, viajei agora.

Daniela Yoko Taminato disse...

Aaa é tão difícil ser simples... E na dificuldade de ser, pegar Bandeira e ler sobre um gatinho mijando é simplesmente sensacional. Ao menos se eu mesma não alcanço, procurar a simplicidade no alheio é sempre um atenuante. Alívio.