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segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Estabilizando a ignorância

Não sei direito por que, mas me lembrei de uma conversa que tive uma vez: quando me disseram sobre poder ocorrer o fato, no Japão, de alguém estar caído no chão e ninguém querer ajudar, me foi argumentado que as pessoas simplesmente não o fariam porque quem estivesse caído poderia muito bem ser um bêbado... e disso me lembrei sobre o personagem Alexander Delarge: uma sociedade aparentemente estável resolve por a culpa toda no próprio indivíduo problemático ao invés de acusar o sistema ou os métodos do sistema: é bem razoável, do ponto de vista do esforço despendido, já que isso é mais fácil. Considerando que, apesar da crise, o Japão é um país com maior estabilidade financeira, um sistema educacional razoavelmente eficiente e baixos índices de desemprego, costuma-se dizer que ele é um país estável. Só que, se olharmos por outro ponto de vista, é o país com a maior taxa de suicídios no mundo... A estabilidade que se diz existente no Japão desconsidera estas coisas... E por isso, utilizando-se da semântica simplificadora, as pessoas costumam dizer que a estabilidade é sempre boa (ainda mais quando se define isto...) e consequentemente dar as costas para as pessoas que se prestam a falar mal da estabilidade.

Às vezes penso que estou quase atingindo esta estabilidade e que minha mente está estagnando junto... não é a estagnação (ou obtenção de um almejado equilibrio) do bom senso ou algo assim: é aquela estabilidade que não te leva mais para lugar nenhum, que enquanto por si mesma, parece algo bonito já que é simétrico, mas, olhando bem, te faz cada vez mais comum e enevoa a visão para as estruturas, para as coisas mais profundas ou pelo menos mais conectadas umas com as outras... mas eu sei o que se deve fazer: pensar mais, para jogar para longe a névoa.

5 comentários:

Daniela Yoko Taminato disse...

Vim retribuir a visita e gostei muito do que li por aqui. Pensar mais... pensar como forma de se vacinar:injetar o mal-estar dentro de nós para prevenir a doença maior. A névoa há de passar para o bem da estabilidade autêntica - aquela emocional e racional e não os fundamentados em dados estatísticos educacionais e financeiros como quer o Japão.

Ca disse...

A estabilidade me parece a morte - talvez por isso o índice de suicídios seja alto no Japão e em outros lugares estáveis. A estabilidade é o fim do desejo, da vontade, que é o que move a vida. Se você quer simplesmente continuar na vida que está levando, uma hora ou você não aguenta mais e muda, ou você morre... (se a morte é provocada por você ou não já é uma outra história).

Bom, ao menos assim me parece.

Adorei seu blog!

Anônimo disse...

Conheço esse insight que você teve de algum lugar...
Por acaso foi fruto daquela conversa que tivemos recentemente?
Começarei a cobrar meus royalties.

Anônimo disse...

Pelo menos agora você não vai dizer que sou o único leitor que visita esse blog.
O texto cru e misterioso do Sr. Kawai conquistando o público feminino... interessante.

Alberto K. disse...

Coincidência pode parecer que seja, mas este texto foi anterior a esta conversa que você citou... e mesmo que não seja, não foi por causa dela... os textos que aqui são escritos não são necessariamente de idéias tidas na hora...