Foto: sxc.hu

segunda-feira, 5 de julho de 2010

No Natal

Ela observava que a lâmina talvez estivesse meio gasta, até meio enferrujada... passou pela tua cabeça que, se o ato não se consumasse de maneira correta, ela ficaria ferida e também doente. Olhava lá fora as luzes piscando, parecendo até que elas estivessem zombando; ela enxergava até uma mensagem, lhe dizendo:

Hoje tu, logo logo passarás
E ninguém, ninguém mesmo, nem ligarás!

E pensava: todo amor, onde estás? Nos casais felizes, que vão de mãos dadas às compras, e imaginam que aquilo tudo nunca vai acabar: que seja infinito enquanto dure? Pois, Andréa, que ama José, que ama Maria, que ama Gunther, que ama Paul, que ama Hilde, no final das contas, se matam de amores, literalmente, ao bailar da fada verde?

Após as considerações do pré-ato, ela voltava a si, imaginando se alguém pararia para te olhar, lacrimejando o finzinho de luz que lhe sobrava, enquanto ainda palpitava... e concluía que, à parte de todo ato de comiseração ensinado pelos padres e pais e sei lá o que fosse, a vida continuaria bela, como também foi ensinado junto com as considerações sobre comiseração, culpa etc. E, ela imaginava como a encontrariam: triste, num quadro quase negro, com uma tantoo em mãos, quase que ainda tremulando, como se esse tipo de ato nunca se consumasse, dado à absurdez de presenciar um rosto meio deformado, mas jovem, pálido como a lua testemunha da cena final.

Trespassou impiedosa a velha poesia em metal todo o ventre: situação enigmática como um ponto final, seguiu mantendo a serenidade, como se a dor física acalmasse toda a dor espiritual que lhe dominava.

A noite caía como sempre.

Um comentário:

Tieko disse...

A dor física acalmar a dor espiritual? Hum... Acho difícil... Quem sabe ela conseguiu, né?