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quinta-feira, 9 de julho de 2009

Hetaira moderna

Ela tinha consciência que a sociedade lhe dava as costas.



Talvez isso fosse uma boa motivação para ela agir dessa forma... Claro que, na verdade, a motivação era maior que isso: subexistir, viver ali, na borda da moral, quase caindo fora do mundo, mundo que realmente deveria sair um pouco dos escritórios da burocracia dos convívios e formalides olá-excelentíssimo-prazer-eu-sou e devo-lhe-minha-subserviência-senhor. Além disso, para ela era como um trabalho qualquer (tomado os seus devidos cuidados), pois já tinha transcendido boa parte do moralismo que haviam tacado dentro dela. Mas era tudo isso para ela: gostassem ou não. E ela pensava frequentemente sobre isso, sobre a banalização e sacralização das coisas. Sabia que seu emprego estava mais para banalização do que sacralização, mesmo por que sua profissão não era das mais sacras... profissão no sentido econômico, como meio de se realizar. O seu ponto de vista filosófico era bem mais como um ponto de fuga, onde sua "profissão" residia no plano que logo se nos apresenta, como uma casca que os mais leigos de imediato consideram ser a essência.

Ela era realmente bonita, mas sabia que, novamente, era apenas casca e mais casca dar qualquer valor extrapessoal para aquilo: se se cuidava, era para si e não pelos outros.

E ela gostava de estar assim, à parte da tacanhez característica dos moralistas extremados, por que sabia que esse era o caminho certo para um dia, quem sabe, se conhecer melhor.

2 comentários:

Ca disse...

ai como queria ser assim. dar as costas ao mundo, à sociedade, à "moral e aos bons costumes"...

mas, se conhecer por completo? não acredito que alguém seja capaz disso.

Daniela Yoko Taminato disse...

Aaaa moral... obstáculo superado para os chamados espíritos livres. De ti não me aproximo a ponto de cegar-me, mas também não me afasto inteiramente. Se é o correto? Não sei, mas dá um trabalho esse negócio de ponderação e relativização de tudo...