Foto: sxc.hu

sábado, 16 de maio de 2009

Inusitação

Passados 13 anos (sim, 13 anos!) eis que revejo o quase porquinho-da-Índia num ponto frio e qualquer da Paulista. O curioso é que isso se sucedeu no campo das impossibilidades: multiplique a impossibilidade de se praticar um reencontro com uma pessoa que você nunca teve contato e não conhece nada sobre sua vida (bom, descobri, na verdade, que no último ano ela mudou de escola), pela impossibilidade de encontrar no mesmo horário e, ainda, esperarmos que ocorra dessa pessoa perder o ônibus, no ponto em que você observaria estupefato... altamente improvável!

Eis que pulamos para a cena seguinte: está o indivíduo agora disposto a saber se essa possibilidade remota ocorreu! Antes de mais nada, mune-se da certeza dessa impossibilidade do acontecimento e fica pasmo. Logo depois (umas 10 paradas depois, que passaram voando), veste sua teoria de jogos sem derrota, só para saciar sua curiosidade esfaimada. Começa a partida:

- Oi, posso fazer uma pergunta estranha?
- Pode...
- Seu nome é Isabella?
- Sim... você me conhece?
- Ahn... você estudou no Luiz Gonzaga, não foi?
- Foi, mas faz muito tempo; foi em 2000.
- Hum, você lembra de um japonesinho que ficou te olhando, olhando, olhando e olhando?
- Não...
- Ah, então, era eu...

Depois pensei comigo: sim, uma partida sem derrota, foi o que aconteceu aqui! O que eu ganhei? Inusitação! Isso!

Se em um jogo não se pode perder, por que não jogar?

3 comentários:

Ca disse...

nossa, ótima pergunta. talvez não joguemos pelo fantasma da derrota que nos assombra. o fantasma da vergonha. ou algo do gênero.
mas te pergunto: existe mesmo jogo sem derrota? pq o sentimento negativo que surgirá depois de uma partida dessas não seria ele mesmo uma derrota? pq eu não sei.
afora a questão existencial, seu texto ficou lindo.

quanto à matemática, bom, isso é o que eu vejo na educação, numa matéria em que uns 30% da sala é constuída por matemáticos, e eles todos se conhecem, são amigos, se dão bem. a imensa maioria é da fflch e ninguém fala com ninguém. o pessoal mesmo da matemática me disse sobre essa união - fiz o comentário que escrevi no post na aula.

ah, eu não tenho dúvidas de que as empresas montam no Estado. viu a notícia de que empresas privadas poderão fazer reformas/melhorias em bairros da capital? no futuro teremos o bairro Coca Cola, Unilever...
- Onde você mora?
- No Cola-Cola, e vc?
- No Menthos. É melhor a gente não se misturar então.

(rsrsrsrsrsrsrsrs)

e o FT...! sou atéia também, graças a Deus. rsrrsrsrs

bjos

Alberto K. disse...

Mas não me apercebi de nenhum sentimento negativo... bom, é claro, isso seria a sutileza desta "teoria dos jogos sem derrota" (que irá render um post): é preciso avaliar realmente se algo será perdido ou não, para poder dizer que tal jogo será ou não sem derrota! Mas naquele caso não tinha nada a perder antes: não considerei como derrota ela não ter lembrado de mim... Como eu disse, era só para satisfazer a curiosidade e testar a mim mesmo. Mas... as impressões de uma dada situação mudam de pessoa para pessoa, na mesma proporção do seu envolvimento com a impressão (ficou na cabeça esta palavra... estou insistindo em não ficar burrinho e comecei a ler Hume).

Daniela Yoko Taminato disse...

só uma expressão me valeu o texto inteiro! Me fez lembrar de um dos poemas mais ternos e cheios de simplicidade.

Quando eu tinha seis anos
Ganhei um porquinho-da-índia.
Que dor de coração eu tinha
Porque o bichinho só queria estar debaixo do fogão!
Levava ele pra sala
Pra os lugares mais bonitos, mais limpinhos,
Ele não se importava:
Queria era estar debaixo do fogão.
Não fazia caso nenhum das minhas ternurinhas...
- O meu porquinho-da-índia foi a minha primeira namorada.

Manuel Bandeira