Foto: sxc.hu

terça-feira, 1 de julho de 2014

Armadura

Brilhavam reluzentes 20 mm de puro aço sobre seu coração rijo, dentro de um peito de parcas lutas; luvas e botas que, de tão rijas, lhe permitiam somente os movimentos necessários, para que lembrasse sobre o quanto os movimentos deveriam ser mais bem calculados, para que não caísse em profundos poços que eram como se se abrissem sob seus pés quando errava os passos e nem erguesse nem mesmo uma pena a assinar tratados exaltados ou sem valor.

Sua valentia agora desbravaria somente locais que houvesse um mínimo de sol. Cansara dos terrenos pantanosos que havia desbravado para tentar matar alguns reles inimigos e conter sua sede de luta, o que, às vezes até revelava-se infrutífera. Sede tal que ele mesmo começava a questionar, pois, tendo lhe sido inculcada essa suposta coragem guerreira, lutava sem saber exatamente, somente para depois poder contar feitos a outros guerreiros.

Havia sim algum gosto, mas na proporção inversa da quantidade de vezes que empunha a espada perante até mesmo sua própria sombra.

Mas, agora, tendo reconhecido o real núcleo de sua vontade, não lutaria com água até a entrar-lhe nas botas, para meramente fincar a espada em três ou cinco mourões briguentos, atacados pela mesma sede irascível e cega. Não quixotearia contra gigantes a girar os braços.

Fitaria de longe grandes pastos. Procuraria um grande esgrimista para que pudesse brigar sobre um fortíssimo sol que lhe torraria o rosto mas sobre o qual, depois, diria: "vim, vi, venci".

Sentia a brisa e percebeu que havia esquecido de viver enquanto lutava.

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