Toda semana ele perguntava a ela sobre quando poderiam sair e lhe contava sobre suas viagens e suas idéias.
E ela nunca podia sair, apesar de parecer gostar de lhe ouvir. Um dia, ele resolveu mudar.
Pensou que ela deveria respirar e que não deixá-la fazer isso descaracterizaria as vontades dela.
Hoje, ele que está esperando ela ligar.
Mas acho que isso não será feito.
quarta-feira, 28 de outubro de 2009
Sufocamento
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Alberto K.
, escrito em
23:08
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terça-feira, 27 de outubro de 2009
Sete palmos são sete palmos
Era uma pessoa tímida, que alguma espécie de medo ao contato com o próximo a impedia de realizar seu desejo mais profundo: encontrar sua alma gêmea. Imagem esta já bem formada, de um moço de cavalo e intenções brancas. Um dia ela encontrou um demônio montado num dragão e quis mudá-lo. Ela apanhava todo dia.
De desgosto, morreu cedo.
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Alberto K.
, escrito em
10:14
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sexta-feira, 23 de outubro de 2009
Tropa ignóbil
O ranço que escorria do pessimismo ignorante se refestelava dentro das suas bocas.
Teus risos unilaterais, monologantes, parecem até justificar o doce gosto que vem dos podres e infestados pensamentos imediatistas, alienados, que insinuam o tom dos clichês que se atribuem aos que se esforçam por não cair na velha conversa da verdade absoluta (Foucalt que o diga!): inocentes, idealistas, extremistas, radicais, "socialistas", "anarquistas" (e muito mais outros movimentos políticos estereotipados pela tacanhez, alheia a compreensão dos processos)... mas, sabe, estes teus chicletes não passam de angústia disfarçada de escudo brilhante.
A sutileza linguística era uma das suas armas: tratavam de diminutivar na mesma proporção do tamanho da sombra que sua soberba fazia pairar sobre os outros. E era assim: não ousasse ninguém captar essa manobra mental, por que senão o manjado discurso da não aceitação de opiniões emergiria.
Claro que, com menos do que o próprio cérebro, não era muito complicado compreender a demanda do pisar alheio: é a velha história de ser a partir do não-ser dos outros.
Será que a escuridão só existe na medida em que não há luz?
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Alberto K.
, escrito em
12:24
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segunda-feira, 12 de outubro de 2009
O bêbado
Olhavam com assombro para o pobre embriagado.
Questionou-se sobre onde ele estava... tentei dizer o bairro, como se isso talvez suprisse a pergunta, o que depois percebi que não. Arbitrariou que seu destino era o metrô, estando num ônibus que tinha passado há muito pelo Consolação... o motorista então o instruiu a atravessar para o outro lado de uma rua que não o ia deixar cumprir tal tarefa... desacatando a altivez com que se impunha a velocidade capitalistamente necessária do ônibus, o motorista do coletivo se vestiu com o resto das minhas esperanças que ainda tenho na humanidade, daquelas que vem com um óculos que nem aqueles 3-D, mas que fazem a gente ver que antes de bêbado, estava ali o homem, com um problema que não sabíamos, e se decidiu.
Pousando sublimemente o ônibus, o motorista se ergueu como se brandisse a todos a obrigação de ser humano com os humanos. Guiando o ébrio até o outro lado da rua, deve tê-lo instruído sobre quais ônibus pegar e depois, talvez ainda sentindo o poder de re-humanização que tais tipos de coisas conseguem fazer, pensava alto, inclusive sobre a atitude primeira que havia considerado, que era a de largar o homem naquele estado à sorte da neutralidade de culpa dos carros.
Pensava alto, pedindo perdão talvez. Mal sabia ele que seu ato havia construído o perdão ali, havia construído um dia incomum, que não o seria num dia em que o seu não-ato implicaria no corpo estendido de um bêbado.
Não menos que um sincero aperto de mão este verdadeiro ser humano merece.
Por
Alberto K.
, escrito em
17:20
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